segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014


MUSEU DO CHIADO





 PERMANENTE: que permanece, duradouro, contínuo, ininterrupto. 
 TEMPORÁRIO: que só dura um certo tempo, provisório, transitório. 


 Domingo de manhã. Toca a ir aproveitar a borla que o Estado ainda nos dá nos Museus até às 2 da tarde. E, porque recentemente o País parou para discutir Arte Contemporânea, hoje decidi ir ao Museu do Chiado, que também se chama Museu de Arte Contemporânea.
Lá para aqueles lados aquilo anda agitado: mudou a direcção, mudou de mecenas e parece que é desta que o museu aumenta o seu espaço de exposição. O Museu de Arte Contemporânea – Museu do Chiado tem por missão “Coleccionar, conservar e apresentar um acervo público de arte portuguesa de 1850 até à actualidade (...)”, como vem escrito no seu site.
E é o que tem feito desde 1911 com muitas dificuldades, dado o permanente desinvestimento no sector dos museus em Portugal. Mas um dos grandes problemas do Museu do Chiado é a exiguidade do seu espaço expositivo face à extensão da sua colecção, quer em termos de numero de peças, quer na extensão cronológica, nunca conseguindo expor convenientemente a sua colecção a par de uma programação de exposições temporárias. Assim, a relação entre exposição permanente e exposições temporárias muda consoante a direcção, fazendo da exposição permanente uma permanente exposição temporária que dura um pouco mais tempo, mais ou menos com as mesmas poucas obras. Ou seja, quando vamos ao MNAC para ver ou rever este ou aquele quadro, na grande maioria das vezes ele não está exposto. Houve tempos até em que o espaço do museu esteve ocupado na totalidade com programação temporária, como em 2007/2008 com a exposição “Centre Pompidou – Novos Média 1965 - 2003”.

Recentemente, o Estado anunciou que é desta que se faz a expansão do Museu do Chiado para os espaços do extinto Governo Civil de Lisboa e da também extinta Esquadra da PSP. Vamos lá ver se é desta. Muitos verão aqui a solução. Embora não conhecendo a pormenor a dimensão dos novos espaços, bem como a real extensão da colecção permanente, penso que não é desta que tal proeza será conseguida.
A par do anúncio da expansão do espaço, tivemos também a boa notícia de que várias obras de arte dispersas em dependências do Estado irão incorporar a colecção deste museu. Cresce o espaço físico, mas cresce também, e bem, a colecção. E esperemos que cresça mais, afinal a colecção tem como terminus cronológico a “actualidade”, que não é mais que o “hoje” e o “amanhã”, não apenas um “ontem” com princípio e fim bem definidos. E não esqueçamos que, com a cedência destes novos espaços para o Museu do Chiado, vem a obrigação de expor a “colecção” da PSP. Não sei muito bem do que se trata mas, sem dúvida alguma, deve ter toda a relevância para ser apresentado no Museu do Chiado. Tenho receio que, mesmo com a extensão do espaço, a apresentação da colecção permanente do Museu do Chiado continue a ser feita de forma parcelar e demasiado rotativa, não permitindo um olhar sobre a diversidade e riqueza das obras e artistas presentes na sua colecção, mudando ao sabor da mudança da direcção.

O novo director, o Dr. David Santos, vindo do Museu do Neo-Realismo, resumia assim em entrevista ao Público no dia 26 de Janeiro o programa com o qual se candidatou: “Um museu que sublinhe a sua nomenclatura — Museu Nacional de Arte Contemporânea —, investigando e dando visibilidade à arte portuguesa contemporânea. É o dado fundamental da minha candidatura: apresentar uma programação mais ligada ao momento actual, à arte emergente”. Depreendo então que muitas das significativas obras do século XIX português vão continuar nas reservas ou penduradas num qualquer gabinete estatal para dar lugar à “arte emergente” e a cassetetes e algemas da PSP.

Por enquanto, enquanto as coisas não mudam, a “exposição permanente”, ainda da responsabilidade do anterior director, apresenta cerca de uma centena de obras com a amplitude cronológica de 1850 a 1975, estado a produção artística depois do 25 de Abril reduzida à exposição temporária com obras de Jorge Molder. Vamos então esperar para ver o que vão fazer do MNAC – Museu do Chiado: se é desta que temos uma Exposição Um Bocado Mais Permanente, que apresente dignamente a arte portuguesa do séc. XIX, XX e “a arte emergente”.
Eu preferia que se pensasse num Museu do Século XIX, deixando os séculos XX e XXI para o Museu do Chiado, e já não é pouco... Mas é um assunto que dá pano para mangas...

Para já continuamos a ter O Grupo do Leão de Columbano Bordalo Pinheiro; Amor e Psyché de Veloso Salgado e H Suite III de Pedro Cabrita Reis tudo na mesma sala.